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Muita gente me pergunta: Qual a diferença entre o Blended Whisky e o Single Malt? Para responder a essa pergunta, temos que voltar no tempo.

BLENDS

Ballantines, um clássico exemplo de blended whisky.

Por volta de 1820, o whisky ganhava força na Escócia, com muitas destilarias sendo criadas nas Highlands e também na região oeste, mais especificamente em Campbelltown. Era uma indústria com pouca legislação, muitas vezes produzindo de forma clandestina. Ao mesmo tempo que desenvolviam a destilação da bebida, os escoceses começaram a exportá-la e essa grande expansão comercial teve relação a alguns acontecimentos.

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Primeiro a invenção do Collum Still (Alambique de coluna) em 1830, que permitiu um processo revolucionário de destilação, muito mais produtivo que o tradicional Pot Still. O Collum Still, também conhecido como Continuous Still ou Coffey Still é uma variação do tradicional alambique que consiste no uso de duas colunas. Esse é um método que durante a destilação do mosto (Wash) permite que o líquido fermentado possa fluir de forma gradual e contínua ao longo do calor através de um labirinto de partições. Isso significa que pequenas porções do wash recebem uma maior quantidade de calor, aumentando assim a quantidade de álcool potável a ser recolhido.

Collum Still (Fonte: thelibertydistillery.com)

Também contribuiu para a expansão a revogação de uma lei em 1846 que impedia a destilação de milho, um dos cereais usados para a produção de álcool com os Collum Stills. Do lado comercial, aproveitando as novas oportunidades industriais que o collum still proporcionava, e por outro lado, produzindo um whisky mais leve e fácil de beber do que os poderosos e defumados Single Malts, John Walker (1820), George Ballantine (1827), William Teacher (1830), James Chivas (1839, John Dewar (1846) são apenas alguns dos nomes que evoluíram para marcas hoje mundialmente famosas, empreendedores verdadeiramente visionários que assumiram riscos consideráveis para internacionalizar os seus produtos.

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A partir da revogação de outra lei em 1865, que proibia as misturas de malte whisky e whiskies de grão, surgia então o Blended Scotch Whisky.

O Blended Whisky é produzido a partir da mistura de diversas destilações, que são reguladas de uma forma para que se atinja uma mesma consistência entre diferentes lotes e assim um mesmo sabor para aquele whisky, independente de quando foi produzido. Na produção destes whiskies, ocorre uma mistura de maltes puros, com destilações feitas a partir de outros cereais não maltados como o milho, o trigo e o centeio. Este é também o tipo de Scotch mais consumido no mundo e atualmente representa mais de 85% do total de whisky produzido na Escócia. Geralmente, são utilizados mais de 40 tipos de maltes para a produção de um blended, e as fórmulas são sempre um grande segredo, visando garantir o mesmo aroma e coloração característica da destilaria. Ele tem um valor de mercado mais baixo que os whiskies single malt e blended malt, muito por conta da utilização dos cereais não maltados e da produção em larga escala nos Collum Stills. Outra característica interessante é que ele pode ser consumido puro, com pedras de gelo ou até mesmo misturado com outras bebidas tipo gin, soda e ginger ale.

São usados diferentes cereais para a produção de um blended.

O tempo de maturação do blended whisky, assim como o single malt, é de no mínimo 3 anos porém a maioria das destilarias terá como 8 anos o mínimo para a venda, como forma de atingir sabores mais sofisticados. É sempre valido lembrar que quanto mais tempo o whisky fique envelhecendo no barril de carvalho, mas encorpado será seu sabor. Por isso eu destacaria blends de 12, 18, 25 anos como whiskies de alta qualidade, mesmo não estando na categoria de single malt.

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Existe certa semelhança entre os blends e outros produtos como o chá, o café, os perfumes e até mesmo o vinho, ou seja, Blending é uma verdadeira arte. Cada obra fica a cargo do Master Blender, que é o responsável por selecionar os barris adequados tendo em conta as características de cada um e do produto final que se pretende obter.

Isto porque não há nenhum processo tecnológico que substitua a decisão tomada pelo nariz humano. Para criar o blend perfeito, o Master Blender o faz apenas por meio do olfato, uma análise sensorial, observando o ponto de maturação de cada scotch. Ele usa os sabores e combinações que tem disponíveis e procede em um jogo complexo de compensações para balancear os diferentes maltes com os whiskies a base de cereais não maltados. Por isso é normal na indústria haver os chamados swaps ou trocas de maltes entre diferentes destilarias para que possam ir buscar os sabores que lhes faltam em troca dos whiskies que ali são produzidos.

Para a criação do blends, o master blender analisa cerca de 500 whiskies para escolher cerca de 40 a 50 que vão entrar na composição. Ele pode ser comparado a um artista que combina os líquidos com maestria e harmonia perfeita, de quem se espera que faça a mesma obra de arte todos os anos. Isso sem provar nenhuma amostra, e lembrando que nenhuma produção é igual a outra.

O envelhecimento é uma das partes mais importantes da elaboração da bebida, e a preparação dos barris de carvalho, um capítulo especial, que pode ser visto em mais detalhes aqui.

Depois de destilado, o whisky é transparente como a vodka ou o gin. Com a maturação nos barris, adquire cor e aromas de carvalho e frutas. O whisky amadurece vagarosamente, envolto pela atmosfera silenciosa dos depósitos, the warehouses, construídos ao lado das destilarias.

Whisky cocktail (Fonte: monkeyshoulder.com)

O escritório do Master Blender.

Os escoceses compram barris americanos usados para a produção de bourbon ou whiskey americano, os chamados ex-bourbon casks, e outros usados pelas companhias espanholas produtoras de Jerez, os ex-sherry casks. Estes barris americanos são os responsáveis por características mais adocicadas no whisky, como mel, baunilha, gengibre, caramelo e de frutas frescas como maçãs e peras, sem falar na coloração mais clara e dourada. Já os barris de Jerez ajudam a formar um whisky com uma cor mais escura, avermelhada, e com sabores e aromas característicos de frutas secas, como uvas passas, frutas cristalizadas, laranja, noz-moscada e panetone.

Quando chega o momento certo, o master blender cuida para que sua criação seja engarrafada. Antes disso, o whisky tem o seu teor alcoólico reduzido a aproximadamente 40% por volume. Para essa redução, usa-se apenas água pura, especialmente das cristalinas fontes escocesas.

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Vale ressaltar que o processo de produção desse Scotch, seja por sua destilação em Collum stills, pelo uso de cereais não maltados ou as habilidades do Master Blender mostram que qualidade não está ligada diretamente ao tempo de envelhecimento, mas sim a uma combinação perfeita, assim como a arte.

Dentro de um warehouse.

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